Diante das razões e métodos de um blog

Em primeiro lugar, isto aqui tudo é dedicado a Victor Heringer, cuja vida me lançou a uma série de reflexões sobre minhas próprias práticas e ideias, e cujo blog eu li insistentemente, com deslumbre e admiração à sua imensa capacidade de dizer coisas. Que este parágrafo norteie todas as demais impressões que vierem aqui, pelo tempo que elas vierem.



Já escrevi em dois blogs, um de poemas na primeira juvenília - quando a poesia parece viver a um estalo de dedos - e outro na finada (moralmente) revista virtual Obvious, há cerca de 4 anos, onde deixava embasados achismos sobre arte, estética, literatura e outras pequenas pretensões.

Na criação deste Burros & Oceanos a ideia é distinta das demais, e um tanto mais singela: que eu me mantenha escrevendo e, dada a recusa constante de editoras e editores, que eu possa potencialmente ser lido, ainda que não imagine que, de fato, seja (quem em sã consciência mergulharia seu tempo nisso aqui?). Mas isto não quer dizer que farei deste espaço um enorme diário pessoal, em que minhas divagações tomem o lugar de um núcleo acessível de significado: o desafio é justamente manter-me disposto e atento na corda-bamba estendida entre o que sinto e como quero ser entendido.

Isto posto, me colocarei uma série de restrições que, como no poema de Brecht, costumam dar força à água dos rios*:

1- Dar sim proporções éticas a obras e opiniões, mas sem embasar em múltiplas teorias o que digo. Uma limitação que eu, ainda uspiano, tento aplicar para dar fundo mais real que abstrato ao que digo, verdade ao achismo, viés de crônica ao mito. Em verdade, neste ponto está o esforço de ser franco com minhas intenções: não tentar criar verdades universais, revestir numa carapaça tecnicista o que digo, realizando teses súbitas e fugazes que não produzem nem conhecimento, nem reflexão. Isso é sobre honestidade, de fato.

2- Não revisar mais de uma vez qualquer texto. Aqui o esforço de alguém limitado por seu próprio ímpeto perfeccionista que, em alguns casos, pode ser puramente narcisista. Aqui também o esforço de um homem apaixonado por sintaxe que fica tentando produzir sentido com essas coisas. Vou tentar, uma vez na vida, assumir que exista algum tipo de linguagem trivial, e que ela facilite o entendimento das coisas.

3- Não me autocentrar. A ideia neste blog é falar sobretudo sobre coisas feitas por outros, acontecimentos que fogem à minha vida pessoal, enfim: povoar isso aqui de gente.

4- Criticar alguns objetos na mesma proporção em que elogios outros.

5- Sempre ter em mente minha enorme propensão ao erro.

6- Ao menos uma vez por semana, escrever.


Por ora, isso. Que possa ser verídico, um desejo último. Um único sorriso, um único "mas que besteira!" já redimira qualquer esforço que seja aqui dispendido.



* Boa-sorte em contar quantas metáforas com água sou capaz de produzir.

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