Campossanto

O sol. O dia ao meio. A pino.
Os pés nus. O chão nos pés. O chão.
Inundações. Em tudo. Por dentro.
O sol. O sol. O sol.

As frutas apodrecem, vermelhas;
escorrem vermelhas das bacias.
Os olhos veem o mundo inteiro
apodrecer. Uma sombra, onde

esta estaria? Luz tamanha
tanta. O corpo é um alvo aberto
na rua, deserta, e total.

O corpo é o meu. Silenciosa
mente o meu. Calado sob o sol
sedento. O coração de qualquer

forma pulsa .Externo, só, alheio.
Entrar.
Sim, entrar.
Setas folhas vento fresco fontes.

Sim. Estátuas. Abaixo da
colina. Me chama, mas não pelo
nome. Respondo. Mas não com pa
lavras. Oscila. De cima se esboçam

crisântemos marques ribeiro desamparo
vigo a flora a fauna o recife
martins vestidos nós de gravata

quem diz o que de fato diz? Que som
tem um nome não lido?
Um contorno impreciso, outro

passo, o tempo atado, a nuca
que escorre na busca. Outros
passos. Como escutasse apelar
por um corpo, que os desse formas, sen

tido, ordem, tino. Minto. Madalena
Albuquerque Soares sim fala
a verdade. Como diz também a
a luz. E estamos nós dois, aos pedaços.

A geometria exata do que
constrange
nega toda a santidade:

fratura exposta, terra salgada
e imposta. A déspota hora
passada.

Estou vivo, sob seus corpos, seus
nomes, suas fotos em cores
desbotadas
que resistem secretamente à batalha.

Estão mortos. Todos os seus ossos,
mortos, enterrados como os gregos
persas hunos os aqueus
numa encosta

onde o sol se esconda. Como um
edifício que caiam as horas.
É noite. Não importa.

Faróis que corram
na estrada. Aqui nasceram estas mãos.
Nesta cidade

erguida de costas. Também os possíveis
passos. Mil-novecentos-e-noventa-
e-cinco. É
dia.

Para os vivos e os não-vivos que
se encontram
como as pedras se chocam

com a água.





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